Veterinário: o amigo da trincheira agora pede socorro
Texto divulgado pelo Acadêmico Álvaro César de Abreu ocupante da
Cadeira de nº 31 que tem como patrono o Dr. Alarico Vargas de
Moraes e Diretor Regional Sul da ABHV.
Não restam dúvidas de que a classe não deixou a desejar em um
momento em que animais e a saúde pública precisavam não apenas de
conhecimentos, mas de agilidade para reduzir a velocidade em que
éramos engolidos pelo caos. Pela mais profunda necessidade de ser
útil, veterinários saíram de suas casas munidos com o que dispunham
diante do muito que precisava ser feito. Centenas de veterinários
doaram não apenas seu trabalho, mas espaços em suas casas, e
também nas residências de parentes e amigos, lugares secos para
albergar animais resgatados das águas que necessitavam de maior
atenção.
Apesar de terem salvo um incontável número de vidas, muitos
veterinários não conseguiram salvar a si mesmos pois nada puderam
fazer para impedir que seus estabelecimentos comerciais fossem
atingidos. Diversas são as clínicas, consultórios e hospitais veterinários
que, se não se encontram rodeado por água, mostram o profundo
impacto que a enchente causou sobre sua vida profissional.
De acordo com dados da Associação Brasileira de Hospitais, Clínicas e
Centros de Diagnósticos Veterinários (ABHV), 82,5 % dos
estabelecimentos gaúchos foram impactados sendo que destes, 8,3%
seguem com as portas fechadas pela mais absoluta falta de condições
de darem prosseguimento aos negócios. O melhor amigo que um
cachorro pode ter agora se vê sozinho afundado na trincheira de onde
socorreu tantos animais. E se desafogar não será tarefa fácil. Em alguns
casos, os veterinários não perderam apenas seus locais de trabalho
mas também suas casas, o que faz da reconstrução um grande desafio.
Não basta abrir a porta e lavar o que parece intacto. Equipamentos de
alta performance foram danificados de forma irrecuperável.
Diversos são os abrigos onde os profissionais da área animal seguem
com trabalho voluntário, uma exaustiva tentativa de amenizar a dor
daqueles que perderam muito ou mesmo tudo do que tinham. Ainda que
tudo esteja perdido, seguem contando com o profissionalismo daqueles
que, mesmo em tempo de guerra, se mostraram o melhor amigo que
um cachorro, um gato e um cavalo poderiam ter. Que o governo tenha
esse mesmo reconhecimento. Para voltar a se solidificar, precisam os
veterinários de linhas de crédito acessível para a aquisição de seus
equipamentos e insumos assim como prorrogação dos impostos
estadual e federal.
Publicado em 18 de Junho de 2024 no Jornal do Comércio de Porto Alegre
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